Museu de Arte e Cultura do Canjira
Nascido em 3 de Maio de 1929, natural de Cachoeira de São Félix, recôncavo baiano, Brasiliano Pereira Reis, também conhecido como Mestre Canjira, autodidata, considerado melhor taxidermista do Brasil pela USP em 1996, com um estilo único de trabalho, chegou em Itaobim em 1952, aos 23 anos.
Vida do Mestre
Nascido em 3 de Maio de 1929, natural de Cachoeira de São Félix, recôncavo baiano, Brasiliano Pereira Reis, também conhecido como Mestre Canjira, autodidata, Soldador Mecânico, considerado melhor taxidermista do Brasil pela USP em 1996, com um estilo único de trabalho, chegou em Itaobim em 1952, aos 23 anos.
Foi criado em Salvador, nasceu cego, e ficou nessa condição até três anos de idade, segundo ele, sua mãe fez uma promessa a Santa Luzia, para voltar a enxergar. O nome Canjira, foi dado no batismo do jogo de Capoeira, que na época era proibido pelo Estado Brasileiro, e para realizar a prática, era necessário um olheiro para avisar da chegada policia, o termo significa "aquele que manda em uma roda", o que já demonstra o quão bom ele era.
Espirita, sensitivo, um homem curioso, e muito orgulho de ser negro, acreditava que o país não ia para frente devido o racismo, algo muito presente em seu cotidiano, algo que ele não aceitava de maneira alguma, como citado no inicio existia a proibição da prática da capoeira, apenas mais uma das diversas leis racistas da nossa história, e pela negativa de se casar com uma mulher branca, por parte da familia da mesma.
Primeira Fase do Museu
O Mestre Canjira, aprendeu a técnica de embalsamamento quando trabalhou cuidando de cadáveres em Salvador, e por gostar muito da natureza, entendeu que seria uma forma de manter as lembranças para as futuras gerações (muitas das espécies correm risco de extinção), empalhando animais, os quais eram doados por caminhoneiros que passavam na BR-116, e polícia rodoviária, militar ou florestal, sendo muito desses animais mortos em acidentes ou por caçadores (no Brasil nenhum animal pode ser morto para essa prática).
A primeira peça oficial foi feita em 13 de Dezembro de 1956, um Tatu, porém pode ser que as primeiras peças eram com animais menores como pássaros e morcegos, como forma de ter, e embora o museu abrige, tanto animais da região, como de outros lugares, incluindo aves, répteis, mamíferos, ele não é apenas de taxidermia, embora a maioria das obras sejam.
Aposentado, mantinha o projeto em sua casa, nas margens da BR-116 sem nenhum tipo de ganho, uma vez que não podia vender peças com animais silvestres, em uma entrevista citava a intenção de aumentar o acervo, porém não havia apoio financeiro, o que inviabilizou o projeto.
Ele recebia muitas visitas, inclusive os visitantes assinavam em um caderno de visitas, ele ficava bastante satisfeito ao contar as histórias para os visitantes, incluídos alunos das escolas que iam até o local.
Casamento e Família
Quando mais novo, em 31 de Julho de 1959, Canjira raptou a namorada de nome Helena Rodrigues para se casar, segundo ele, a familia da moça não aceitava o relacionamento, devido ele ser um homem negro, para conseguir manter a união, eles fugiram duas horas da manhã, durante o dia se escodiam, no período da noite iam a cavalo, até a comunidade Cansanção, área rural de Virgem da Lapa, 90km de Itaobim, para se casarem, na volta foram abordados pela polícia, porém o casamento já havia sido realizado, sendo quatro filhos nascidos do relacionamento.
Objetos Antigos
No início do museu se deu em 1956, acredita-se que já existia algumas peças, porém várias se perderam com tempo, os itens que não são animais empalhados, foram comprados de pessoas que iram descartar, ou já descartadas, ou doadas devido seu interesse nesse tipo de equipamento.
Dentre as antiguidades temos, telefones, máquinas de escrever (a partir de 1835), máquina de costura, um fax que mais parece uma máquina de xerox, ábaco, calculadora, coleção de notas e moedas (a partir de 1735), relógios, granada antiaérea da primeira guerra mundial, fossil, pedaços de meteoritos, e muitas outras peças, sendo que algumas não se sabe nem a forma de uso, 150 ao todo.
Lampião, o Rei do Cangaço
No museu é possível encontrar uma máquina fotográfica, e um binóculos utilizada por Lampião, o rei do Cangaço, material obtido através de um tio que trabalhou com o cangaceiro.
Moedas e Notas
No museu são dois quadros, moedas e notas, sobre as moedas, muitas foram compradas, as notas foram adquiridas de maneira curiosa, Canjira era dono de oficina mecânica chamada Oficina Santa Luzia, nas margens da BR-115, acabava por atender muitos estrangeiros, que por sua vez pagavam com suas moedas nacionais, e acabava por achar graça nelas, uma vez que em nosso país não tinha valor, outras vieram também de doações, após obter algumas, foi decidido organizar as mesmas em um quadro.
Amor Pelos Animais
Amante da natureza, era criador de cobras, todas soltas, uma delas era a Sofia, que ia embora, e retornava, tamanha a ligação com seu dono, outra prática era cuidar de animais que estava machucados, sendo bastante dolorido ver os animais mortos sendo entregues, uma vez que ele gostava de vê-los na natureza, soltos, e protegidos pelo homem.
Muito chama a atenção um cachorro no museu, sendo o único, ele era da filha Celeste, que morreu após acompanhar outros cães na rua, após ver a dor da filha, resolveu embalsamar o mesmo.
Um Veado, parte da exposição, tem apenas três patas, fruto de um tiro por parte dos caçadores, que por sua vez foi entregue pela polícia florestal.
Processo de Empalhamento
Canjira afirmou que nunca conheceu outro taxidermista, e que foi autodidata, o que é bastante impressionante, uma vez que é necessário conhecimentos de Biologia, Química, e até artes, uma vez que a maioria dos animais parecem vivos.
Em reportagem, Cajira afirma quando falava do processo de empalhamento de uma cobra, que era removido a parte dos órgãos e carne, e foi passado uma fita especial para a pele não se soltar, a secagem era realizada na sombra, entre os materiais usado nos animais temos a palha, arame, gesso, tinta, pedra hume, um produto para as peças não terem um mal cheiro, poliuretano, existia também o processo de congelamento para produzir uma maciez no couro,
Ferramentas: alicate, agulha, linha de náilon, os olhos de vidros viam de fora, seus amigos do Rio de Janeiro ou São Paulo mandavam, devido não existir na região, sendo o focinho, orelha e cauda feitos com próteses.
Morte e Doação do Acervo
O Mestre, morreu em 08 de Fevereiro de 2014, aos 84 anos de idade, após isso todo o acervo foi doado para a prefeitura contendo 150 peças. O museu funcionava às margens da BR-116 (Rio Bahia), e quando assumido para a prefeitura, passou para o antigo Quartel Militar, já restaurado.
Em publicação da Gazeta de Araçuaí podemos ler o que foi dito por Jô Pinto, professor, produtor Cultural e escritor da cidade de Itinga. “Os anjos, arcanjos, orixás e caboclos vieram buscar este artista da arte da taxidermia para junto do Pai Celestial, deixando o Vale do Jequitinhonha com um profunda perda. O Mestre Canjira foi, e será um dessas pessoas raras que deixa de uma forma simples e através da arte, um ensinamento de vida para todos nós”.
Funcionamento
O Museu abre suas portas de segunda à sexta-feira, das 07:00h às 11:00h e das 13:00h às 17:00h.
Galeria de Imagens
Mapa da Cidade de Itaobim
Fontes:
Gazeta de Araçuaí
Douglas Duffor. Museu de Arte e Cultura - Canjira - Itaobim MG. YouTube, 17 de fev. de 2014, reportagem original de 2003. Disponível em: https://youtu.be/Uz6L_a2kQhM.
Canal Histórias das Cidades Brasileira, Reprodução da Reportagem do Quadro Minha Cidade Inter TV/ Rede Globo. Conheçam a História de Itaobim MG Região de Belas Capelas, Natureza e Museo do Passado. YouTube, 25 de dez. de 2021, data da reportagem original não encontrada. Disponível em: https://youtu.be/AzzUMgxH0MI.
FEGS32. Viagem ao Vale do jequitinhonha - Museu de animais empalhados do Sr. Canjira UFVJM (Parte 4). YouTube, data da publicação. Disponível em: https://youtu.be/6foEuQj-9NM.
Núcleo De Comunicação Audiovisual Itaobim. Canjira. YouTube, 16 de set. de 2015. Disponível em: https://youtu.be/vrQvQkzz8b4.
Athylla Borborema. Itaobim, terra da manga e do Museu Canjira, no centro do Jequitinhonha. YouTube, 27 de fev. de 2020. Disponível em: https://youtu.be/RJcaY4Z_tTE.