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Distrito de Taquaral de Minas

O distrito de Taquaral de Minas com uma população de 841 habitantes é pertencente ao município de Itinga, e tem uma área de 354,13km², ou seja, 21,41% do território, a lei de criação do distrito é a Lei Municipal Nº 082 de 08/12/2015.

Distrito de Taquaral de Minas

O distrito de Taquaral de Minas com uma população de 841 habitantes é pertencente ao município de Itinga, e tem uma área de 354,13km², ou seja, 21,41% do território, a lei de criação do distrito é a Lei Municipal Nº 082 de 08/12/2015.

Taquaral, a 18 km da cidade de Itinga, cortado pela BR-367, se desenvolveu em torno do garimpo, são inúmeras lavras que se espalham pelo seu entorno e que garantem a sobrevivência das famílias.

Aldeamento de Lorena dos Tocoiós

O Aldeamento de Lorena dos Tocoiós, fundado em 1797 no médio rio Jequitinhonha, próximo à confluência com o rio Araçuaí, representou uma das primeiras tentativas oficiais de “civilização” dos povos indígenas no nordeste de Minas Gerais. Seu fundador e diretor foi José Pereira Freire de Moura, político ligado à Inconfidência Mineira, que, após a prisão de Tiradentes, refugiou-se na região com sua família e escravos. O aldeamento foi criado com o objetivo de fixar e converter grupos indígenas locais, dentro de uma política colonial que combinava interesses religiosos, econômicos e militares.

Origem e localização

O nome “Tocoiós” tem origem em antigas guarnições militares da Companhia de Dragões, instaladas por ordem da Coroa ao longo do rio Jequitinhonha para coibir o contrabando de diamantes após a desanexação do termo de Minas Novas da Capitania da Bahia, em 1757.

O aldeamento foi estabelecido em terras concedidas por Carta Régia ao sogro de Freire de Moura, Antônio Pereira dos Santos, importante proprietário e capitão-mor em Água Suja (atual Berilo). Situado em uma zona de transição entre o cerrado e as matas, o local era estratégico para a vigilância do território e o avanço da ocupação colonial. Com a fundação da colônia, a paisagem humana e econômica da região foi transformada, favorecendo o comércio, a navegação e o surgimento de novas povoações ao longo do médio Jequitinhonha.

Populações Indígenas

O aldeamento reuniu remanescências de diferentes povos indígenas, como os Camanachos, Capoches, Pantime e Maquari, que fugiam dos ataques dos Botocudos do rio Doce. Além deles, grupos Maxakali, vindos do litoral e do interior do vale, também se refugiaram na região.

Esses povos, reunidos sob a liderança de figuras como o “capitão” Tomé, já enfrentavam há décadas o impacto das bandeiras, das doenças e da perda de seus territórios. A chegada a Tocoiós representava uma tentativa de sobrevivência diante da destruição provocada pela expansão colonial. No entanto, o contato com os colonizadores foi marcado pela exploração e pela imposição de costumes, resultando em deslocamentos forçados e na desarticulação de suas tradições.

Contexto Histórico e Político

A fundação de Tocoiós ocorreu num período de intensa exploração territorial e mineral, em que bandeirantes e exploradores percorriam o sertão em busca de ouro, pedras preciosas e da mítica “Serra das Esmeraldas”. Muitos desses grupos se fixavam na região, ampliando a presença colonial. Além disso, havia o interesse em aldear indígenas e transformá-los em soldados nas campanhas contra os Botocudos, que resistiam às frentes de colonização.

A Coroa portuguesa via os aldeamentos como instrumentos de pacificação e controle, oferecendo subsídios, ferramentas, roupas e capelas para atrair os povos nativos. Nesse contexto, o aldeamento de Tocoiós recebeu apoio direto do governo da Capitania de Minas, refletindo o esforço de consolidar o domínio sobre o médio Jequitinhonha.

O “embuste” e o fim do Aldeamento

Por volta de 1801, um grupo de Maxakali teria procurado abrigo em Tocoiós, alegando ser uma nação recém-descoberta e demonstrando interesse em se tornar cristã. Segundo relatos posteriores, esse episódio foi interpretado pelos colonos como um “embuste”, já que os indígenas seriam, na verdade, antigos habitantes da região de Caravelas, na Bahia. A administração de Vila Rica, ao investigar o caso, descobriu que o número de indígenas era pequeno — entre vinte e trinta pessoas — e concluiu que os recursos enviados para “civilizá-los” haviam sido mal empregados.

Como resultado, determinou-se o fim do aldeamento e a distribuição dos indígenas entre os colonos vizinhos, encerrando de forma precoce a experiência de Lorena dos Tocoiós. O episódio revelou a fragilidade e contradição da política indigenista da época, marcada mais pela intenção de controle e exploração do que pela integração dos povos nativos.

Desdobramentos

Após o fechamento do aldeamento, muitos Maxakali foram recrutados como soldados nas guerras contra os "Botocudos". Em 1811, durante a expedição de Julião Fernandes Leão, o diretor de Tocoiós chegou a fornecer intérpretes e recursos para a campanha militar. Segundo Teófilo Benedito Otoni, em 1859, alguns desses indígenas foram reassentados às margens do ribeirão dos Prates, onde ainda se encontravam décadas depois.

Paralelamente, as expedições organizadas a partir de Tocoiós abriram rotas de navegação e comércio pelo rio Jequitinhonha, ligando as regiões de Minas Novas e Belmonte, na foz do rio. Assim, mesmo com seu breve funcionamento, o aldeamento teve papel importante na ocupação e integração territorial do médio Jequitinhonha.

Síntese interpretativa

O Aldeamento de Lorena dos Tocoiós representa um marco simbólico na transição entre as políticas de guerra e catequese indígena no final do período colonial. Embora criado com o discurso de proteção e civilização, na prática serviu aos interesses militares e econômicos da Coroa portuguesa, ao mesmo tempo em que desestruturou comunidades inteiras.

A experiência revelou o fracasso das tentativas de integração forçada e o sofrimento dos povos indígenas, especialmente os Maxakali, que foram utilizados como instrumentos nas próprias guerras que contribuíram para sua destruição. Apesar de sua curta duração, Tocoiós marcou o início da ocupação colonial sistemática do vale do Jequitinhonha, deixando um legado de contradições entre o discurso civilizador e a realidade da dominação.

A origem de Taquaral pode estar ligada ao antigo aldeamento de Lorena de Tocoiós. - Lucas Carneiro de Carvalho, Os Aranã e sua indianidade: disputas internas por legitimidade e o reconhecimento oficial como grupo indígena

"A família Caboclo tinha seus domínios na margem direita do rio, já que fora ali que se localizara o antigo aldeamento de Lorena de Tocoiós. Os antigos aldeados acabaram trabalhando para os fazendeiros da região e também para a Diocese de Araçuaí."

Formação Administrativa

1891

Distrito criado com a denominação de Itinga, pela lei provincial nº 670, de 29/04/1854, e lei estadual nº 2, de 14/09/1891, subordinado ao município de Arassuaí.

1943

Elevado à categoria de município com a denominação de Itinga, pela lei estadual nº 1058, de 31/12/1943, desmembrado de Arassuaí. Sede no antigo distrito de Itinga. Constituído de 2 distritos: Itinga e Santana do Arassuaí, ambos desmembrados de Arassuaí. Não temos a data de instalação.

2015

Pela Lei Municipal Nº 082 de 08/12/2015, é criado o distrito de Taquaral de Minas (ex-povoado de Taquaral), e anexado ao município de Itinga.

Geografia

População Urbana e Rural

Distrito População Pop. Urbana Pop. Rural
Itinga 10.117 (73.60%) 6.734 (66.56%) 3.383 (33.44%)
Jacaré 841 (6.12%) 119 (14.15%) 722 (85.85%)
Taquaral de Minas 2.787 (20.28%) 1.697 (60.89%) 1.090 (39.11%)
Total 13.745 hab 8.550 (62.20%) 5.195 (37.80%)
Distritos 3.628 (26,40%) 1.816 (21,24%) 1.812 (34,88%)

Território

Distrito Área Densidade % Área
Itinga 737,80 km² 13,71 hab/km² 44,62%
Jacaré 561,76 km² 1,50 hab/km² 33,97%
Taquaral de Minas 354,13 km² 7,87 hab/km² 21,41%
Total 1.653,69 km² 8,31 hab/km² 100,00%
Distritos 915,89 km² 3,96 hab/km². 55,38 %

População x Domicílio

Distrito Domicílios População Pessoas por Domicílios
Itinga 4.400 (71,07%) 10.117 hab. 2,30
Jacaré (1948) 550 (8,88%) 841 hab. 1,53
Taquaral de Minas (2015) 1.241 (20,05%) 2.787 hab. 2,25
Total 6.191 13.745 hab. 2,22
Distritos 1.791 (28,93%) 3.628 (26,40%) 2,03

Mapa do Distrito Taquaral de Minas

Fontes

Izabel Missagia de Mattos, « Povos em Movimento nos Sertões do Leste (Minas Gerais, 1750-1850) », Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 30 janvier 2012, consulté le 14 octobre 2025. URL : http://journals.openedition.org/nuevomundo/62637 ; DOI : https://doi.org/10.4000/nuevomundo.62637

Lucas Carneiro de Carvalho, Os Aranã e sua indianidade: disputas internas por legitimidade e o reconhecimento oficial como grupo indígena, 2008, Universidade Federal de Minas Gerais

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