Colônia Mestre Campos
Colônia Mestre Campos é uma comunidade localizada na Zona Rural do distrito de Mucuri no município de Teófilo Otoni, Vale do Mucuri, Minas Gerais.

Colônia Mestre Campos
A história da Colônia Mestre Campos está ligada diretamente ao processo de exploração da região onde, segundo Dr. Reynaldo Ottoni Porto, começou a despertar a atenção dos portugueses, logo após a chegada de Pedro Álvares Cabral, em 1500 no Brasil.
A preocupação maior, era constatarem a existência do ouro e do diamante na terra desconhecida. De indagação em indagação, vieram a ter notícias, por intermédio dos silvícolas, de uma “Serra das Esmeraldas”, situada no nordeste do nosso Estado.
D. João III, pensando nos milhões que poderia adquirir o seu reino se tal fato viesse a se confirmar, organizou expedições para visitarem as nossas terras. A primeira, data de 1550, tendo sido chefiada por Martim Carvalho. Devido aos inúmeros obstáculos, essa expedição regressou, sem Ter conseguido alcançar o seu objetivo, que era positivar a realidade da “Serra das Esmeraldas”.
Seguiram-se as de Sebastião Fernandes Tourinho, em 1573, e Antônio Dias Adorno, em 1580. Ambas limitaram-se ao conhecimento da região.
Escravidão no Distrito de Mucuri
Mestre de Campo João Guimarães
A historiografia cita o Mestre de Campo João da Silva Guimarães vindo de Minas Novas (uma bandeirante) como o habitante mais antigo daquela área, que estabeleceu fazenda no ano de 1752, ou seja, 271 anos atrás na localidade de Pedra D'Água, às margens do Mucuri (10km da sede do distrito). Seu objetivo era enriquecer, uma vez que existia a lenda "Serra das Esmeraldas". Seu titulo dado por Vasco Fernandes César de Meneses, 1º Conde de Sabugosa, vice-rei do Brasil. Antes de chegar na região realizou expedições da região do Rio Doce, sendo o responsável por dar nome ao Rio de Todos os Santos.
Após inúmeros ataques indígenas ele se retirou da região.
Segundo a Wikipédia, “Mestre de campo constituía um posto de oficial superior, existente nos exércitos de Espanha, França e Portugal, na época do Antigo Regime. Conforme o país, competia, a um mestre de campo, exercer o comando de um regimento ou terço, sendo, aproximadamente, equivalente ao atual posto de coronel.”
Antônio José Coelho, Fazenda Mestre Campo
Em seguida, surge a Fazenda Mestre Campo, aberta pelo Sr. Antônio José Coelho que veio de Minas Novas em busca de terras para aumentar a sua riqueza, chegando a cooptar indígenas para trabalhar em sua fazenda, que tinha o trabalho escravo, porém se retirou em função dos constantes ataque indígenas. Hoje, essa fazenda é sede da Colônia Francisco Sá, habitada por colonos nacionais, alemães, austríacos e outros, além de outros núcleos populacionais, como a Vila da Paz, com cerca de 15 famílias, e alguns grotões.
Antônio Coelho da Silva, Fazenda Conceição
Weder Ferreira da Silva na Dissertação Colonização, política e negócios: Teófilo Benedito Ottoni e a trajetória da Companhia do Mucuri (1847-1863) destaca que
"De acordo com Teófilo Ottoni, ao longo do rio Setúbal – na região conhecida como Mestre de Campo, distante quatro léguas de Filadélfia – instalaram-se 13 famílias de fazendeiros de “grande força”, todas pertencentes ao núcleo familiar do quartel-mestre Antônio Coelho da Silva. Esse núcleo familiar, segundo Ottoni, era um dos que se enriquecia no Mucuri – estimava-se que este possuía um patrimônio que avultava a cifra de 400 contos de réis (400:000$000). Conforme o Relatório anual de 1857, somente os familiares de Coelho da Silva, juntamente com o seu plantel de escravos, somavam uma população de 400 indivíduos que passaram a habitar a região do Mucuri."
" Segundo o engenheiro francês Pedro Victor Renault em relatório apresentado ao governo provincial em 1837, informou que Antônio Coelho da Silva, dono da fazenda Conceição, era um rico fazendeiro, possuidor de “mais de cento e tantos cativos”. ainda informando que Coelho da Silva buscava criar uma estrada até a foz do rio Mucuri, utilizando para tal a antiga picada aberta em 1816 pelo Coronel Bento Lourenço Vaz de Abreu e Lima.
Colônia Francisco Sá
Criação da Colônia Francisco Sá
A Criação da Colônia Francisco Sá se deu pelo decreto nº 5754, de 26/08/1921, onde se “cria em terrenos da fazenda denominada Mestre de Campo, no município de Teófilo Otoni, uma colônia agrícola, que terá a denominação de Francisco Sá.”
A maioria das informações está presente na obra “A Colonização Alemã No Vale Do Mucuri” da Coleção Mineiriana, produzida pelo Centro de Estudos Históricos e Culturais da Fundação João Pinheiro, em 1993, que você verá abaixo. Cabe ressaltar que as entrevistadas tinham cerca de 70 anos na época, passado 20 anos, muitas não estão mais entre nós.
As 15 famílias que constituíam a "leva" de 1922 chegaram em Teófilo Otoni, lá permaneceram oito dias, quando, então, foram encaminhadas à Colônia Francisco Sá. O transporte foi feito em carro de boi, lombo de burro e a pé, de maneira muito precária, como descreve uma imigrante daquela época: O número exato de famílias que chegou nesta época em Teófilo Otoni é controvertido. Alguns fazem referência a 15, outros a 16 ou 14 famílias.
"Nós viemos de Teófilo Otoni pra Francisco Sá num carro de boi, as senhoras perrengues que não podiam caminhar ou com menino pequeno. Os maiores vinham em burro, postos, como é que fala, com duas latas de querosene de lado. Então fincava os meninos ali, quatro meninos em um burro".
A chegada dos colonos à cidade e à Colônia Francisco Sã foi assim noticiada no Jornal "O Mucury", semanário em circulação na região, àquela época:
"Chegaram no dia 12, 14 famílias com 68 pessoas, de Colonos alemães destinados ao Núcleo Colonial "Francisco Sá", no "Mestre de Campos". Estando as obras de fundação desse núcleo ainda no início, não existindo ainda lotes preparados para a localização desses colonos, serão alojados provisoriamente e aproveitados nos serviços de construção de casas e outros andamentos da Colônia".
Estrutura da Colônia de Francisco Sá
A Colônia de Francisco Sá possuía 450 alqueires de terras divididos em 90 lotes de cinco alqueires cada um, na localidade denominada Mestre de Campos, próxima à cidade. As obras de infraestrutura, ou de fundação, que deveriam estar prontas quando da chegada dos imigrantes, somente foram concluídas em fevereiro de 1925. Conforme o jornal local "O Mucury", tais obras, iniciadas em 1921, a partir do decreto do Presidente do Estado, Arthur Bernardes, consistiam nos seguintes pontos:
"Serviço de Campo - levantamento de todo o perímetro da colônia, cursos d'água, etc, locação de lotes
Serviço de Escritório - desenho da planta geral da colônia e cópias. Projeto da divisão dos lotes.
Estradas - foram construídos 36.000 metros de estradas, compreendendo as estradas gerais ligando grupos de lotes e estradas de acesso a cada lote.
Tapumes - Foram construídos 100.461lm, compreendendo valos e cercas, com o fim de cercar todo o perímetro da colônia, as estradas públicas que atravessam e dividir entre setores os diferentes lotes. Roçados e Derrubados - Foram feitos em 2.600.000 metros quadrados.
Construções - Foram construídas 83 casas para colonos e reparadas 3 casas no lote da sede, destinadas ao encarregado da Colônia, ao Mestre de Cultura e uma Escola".
A construção das casas é assim descrita por uma das imigrantes:
"Mas ali, na Colônia, não tinha casa, não tinha nada. Era um barracão onde despejavam essas 15famílias. Era de dois andares. Os homens ficavam em baixo e as mulheres em cima, ou vice-versa, isso eu não me lembro bem mais não. E isso era só por uns 8 dias, enquanto o marido, os pais nossos, os filhos grandes e tal fizeram um barracão com divisão assim de dez quartos e cinco cozinhas"
As casas foram logo construídas em regime de mutirão, seguindo um modelo arquitetônico muito simples e padronizado.
PLANTA PADRÃO DE CASA DE COLONOS (1922)
"Casa de Colônia, tudo era de um tipo só, era quatro quartos, cozinha atravessada, pronto. Ah, o banheiro, eles faziam um barraco ali fora. Não tinha esse negócio de banheiro. Isso nós não conhecíamos (...) não tinha forro, eram casas muito altas".
A participação na construção da infra-estrutura da Colônia serviu como uma fonte extra de recursos para os recém-chegados. Com este dinheiro, foi possível a aquisição de bens que ainda não eram produzidos, especialmente para a compra de tecidos mais leves que substituíssem as pesadas roupas do inverno europeu.
A maioria das famílias chegadas em 1922 vivia em "metrópoles" no seu país de origem, alguns em Berlim, e não tinham nenhuma experiência com o trabalho agrícola, como relatam alguns entrevistados:
A chegada dos imigrantes na Colônia era carregada de surpresa e decepção. O local era distante da cidade, rodeado de matas, sem construção alguma, despovoado. Para as crianças, não havia problemas, pois logo tiravam as roupas quentes do inverno europeu, os sapatos e corriam descalças experimentando a liberdade da vida na amplidão das matas. Mas jã para crianças acima de dez anos e adultos era um choque. Perguntada sobre a lembrança da chegada na Colônia, uma entrevistada que se estabeleceu em Francisco Sã aos 11 anos de idade disse apenas:
Era bem triste, bem triste".
Passaram longo período de adaptação, sem conhecimento da flora e da fauna, da língua etc. Naquela época, a área de matas na região ainda era considerável, e as famílias tinham que abrir picadas e clareiras para caminhos, habitações e plantio de roças de subsistência. Pelos depoimentos, pode-se averiguar que a comida, os costumes e mesmo o contato com pessoas de outras raças eram assustadores.
"Gente da cidade grande morava em apartamento, via essas coisas todas, nê? Não conhecia isso, não sabia nem o que era um negro, né? Ficavam horrorizados de ver aquele negro com colher de pau, mas para eles era pau, né? mexendo aquela comida com feijão preto. Feijão preto. Ninguém sabia o que era na Alemanha feijão preto. Essa coisa ninguém comia ".
As dificuldades enfrentadas pelos imigrantes nos primeiros anos, aliadas a um relativo isolamento da Colônia, dada a distância da cidade, contribuíram para o desenvolvimento de um sistema de solidariedade entre eles muito importante para a sua sobrevivência. Mesmo quando havia atrito entre alguns membros do grupo, em caso de necessidade tudo era esquecido, e vigorava o auxílio mútuo. Nas doenças, por exemplo, quando não havia carro ou a chuva deixava a estrada de terra intransitável, os homens se uniam na tarefa comum de levar o enfermo ao médico ou hospital da cidade.
Devido à dificuldade de acesso, muitas vezes, a alternativa de ir para a cidade, que â primeira vista pode parecer mais cômoda e confortável, trazia o risco de transformar-se em uma aventura.
"Nessa lama, quatro horas com animal, era quatro horas da Colônia pra cá [Teófilo Otoni]. Naquele tempo, quando não tinha carro, não tinha a Rio-Bahia, era estrada só a cavalo (...) então de charrete era a mesma coisa. A charrete, o animal não guentou de puxara charrete vazio, que as lameiras era lisa. Eu desci, fui amassando lama. Meu irmão mais velho já morava aqui na cidade. Eu tinha casa pra ficar, pra ter menino com eles (...) De noite cheguei na casa do meu irmão tomei banho quente e tal, mais morto do que vivo (...) eu tava esgotada"

A partir dos alemães da "segunda leva", na área rural, os casamentos predominantes foram os endogâmicos de lugar devido ao convívio e atividades lúdicas em seu próprio ambiente. Isto foi fator relevante na formação de novas famílias, pois geralmente casavam-se entre vizinhos, em geral da mesma grota, como mostra o depoimento sobre namoro entre alemães:
"No domingo a gente ficava junto, baté papo, música, gaita. Outra coisa não tinha, não tinha dinheiro pra sanfona. Tinha muito é violão (...), só tive um namorado, era meu marido. Não sei se era por falta de conhecer outros (...) Na Igreja era muito raro porque na Colônia não Tinha. Prá cidade gastava quatro horas a cavalo, que não se podia ir prá voltarem um dia, né?".

Fontes:
Notas Históricas do Município de Teófilo Otoni, Reynaldo Ottoni Porto
GERVÁSIO, F. K., BERTINATO, N. T. Quadro III: Dossiê de Tomabamento das Fachadas do Edifício dos Correios - Téofilo Otoni. Prefeitura de Téofilo Otoni. 2010. Disponível em: <http: //www.teofilootoni.mg.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/Quadro-III-BI-Correios-Te%C3%B3filo-Otoni-Ex2011.pdf>. Acesso em: Acesso em: 10 fev. 2023.
SILVA, Weder Ferreira da. Colonização, política e negócios: Teófilo Benedito Ottoni e a trajetória da Companhia do Mucuri (1847-1863). 2009. 167 f. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2009.
Cf.: Pedro Victor Renault. “Exploração dos Rios Mucuri e Todos os Santos e seus afluentes – feita por ordem do governo da Província pelo engenheiro Dr. Pedro Victor Renault. Org. e col. por León Renault. Revista do APM. Op. Cit., p. 1079-1080
Decreto Nº 5.754, De 26/08/1921 - Cria Em Terrenos Da Fazenda Denominada Mestre De Campo, No Município De Teófilo Otoni, Uma Colônia Agrícola, Que Terá A Denominação De Francisco Sá. https://www.almg.gov.br/legislacao-mineira/DEC/5754/1921/