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Por que em Teófilo Otoni, Nós Negros Não Somos Nomes de Ruas?

Por que em Teófilo Otoni, Nós Negros Não Somos Nomes de Ruas?

Ao ler a obra “Minha Rua Conta História” é muito perceptível isso, 1. Eloi Martins e 2. Júlio Costa, ambos ex-ferroviários, 3. Trazíbulo Rodrigues de Oliveira e 4. Dona Marieta, são praticamente os únicos negros em nossa região. 5. O ex-prefeito Wander Lister de Carvalho Sá (1977 a 1983), é nome de rua, e do anfiteatro da Praça Tiradentes.

Para além dos 5, temos José do Patrocínio, Machado de Assis e Rui Barbosa, ou seja, 8, nem uma mão completa.

João Gabriel da Costa - seu Nô -, dá nome ao Cemitério Municipal, a Praça dos Ferroviários é uma menção, e São Benedito, nome de bairro.

A Explicação Está na Formação do Município

A Filadélfia de Teófilo Otoni era alva, branca, por isso da colonização alemã inicialmente, desde o início as famílias tradicionais tinham o poder politico, econômico e social, e buscavam o casamento entre seus pares para a manutenção, vivendo em quase uma bolha social, com seus bairros, espaços e clubes, mais tarde, por exemplo, com a criação do Mercado Municipal, a elite local que frequentava o Automóvel Clube, ficou em polvorosa com pretos e pobres próximo a eles.

Muitas das pessoas que estudaram nossa história, ou melhor, dos brancos e libaneses, descendem de escravocratas (ou tem ligações familiares por casamentos), como, por exemplo, do Dr. Manuel Esteves Ottoni, Ana Amália Esteves Ottoni, Leonardo Esteves Ottoni, Joaquim José de Araujo Maia, mesmo que não carreguem mais o sobrenome.

Para elas, o negro, sempre foi uma mão de obra farta e barata para as fazendas, no comércio, nas funções essenciais que ninguém aceitava fazer, na exploração do trabalho doméstico, visto que muitos baianos e moradores do Jequitinhonha vieram fugindo da seca, fome e violência, inflando nossa população urbana e rural.

Sendo os vereadores brancos, ligados entre si por laços sociais, políticos e matrimoniais, seus amigos, parceiro políticos, e familiares, foram historicamente colocados como nome de ruas, em detrimento do restante da população, além dos influentes no comércio que tinham ligações politicas e familiares.

Isto tem relação com o que chamamos de Epistemicídio, o apagamento da história de um povo, em detrimento do outro, a própria história da Bahia e Minas foi embranquecida para atender a visão imoral da elite que até hoje vive o sonho de uma Teófilo Otoni branca.

Somos a Capital Mundial das Pedras Preciosas, literalmente devido às mãos negras no Vale do Mucuri.

Com 376 km no total, a Bahia e Minas, maior empregador da nossa história, com 2 mil pessoas, foi fundamental para a transformação do Vale do Mucuri, não só pela facilidade de exportação, o incentivo ao empreendedorismo, como também, pelo dinheiro dos trabalhadores de maioria negra, injetada em nossa economia, assim como os impostos.

Durante a escravidão muitos senhores, senhoras de escravos ou feitores foram assassinados, demonstrando que jamais fomos submissos, nosso antepassados ainda buscaram o trabalho para alforriar seus filhos, muitas vezes separados de si, mesmo diante de toda a adversidade.

Na construção da Estrada Santa Clara, primeira estrada de rodagem do Brasil, pelo menos 140 trabalhadores foram homens negros escravizados.

O trabalhador que faz nossos bairros, estradas, prédios, escolas, hospitais, foram, e são na maioria negros.

A maioria dos trabalhadores e pequenos produtores rurais, além dos empreendedores do município, são negros.

Em Teófilo Otoni existem mais homenagens a quem escravizou pessoas negras, do que homenagens aos próprios negros, 75% da nossa população.

Dr. Manuel Esteves Ottoni (4 menções) e Ana Amália (1 menção)

Teve cerca de 100 pessoas escravizadas na fazenda Itamunhec. Homenageado com nome de escola no Marajoara, busto na Praça Tiradentes, rua, além de ser patrono com a cadeira 11 no IHGM. Esposa, foi mãe do ex-prefeito e deputado Epaminondas Ottoni. Homenageada com nome de rua no Altino Barbosa.

Christiano Benedicto Ottoni (1 menção)

Foi um ferrenho defensor dos escravocratas, patrono com a cadeira 04 no IHGM.

Tiradentes (1 menção)

Sim, Tiradentes também tinha escravos, ele é outros ligados a inconfidência Inconfidência Mineira.

Leonardo Esteves Ottoni (3 menções)

Dono da fazenda Liberdade, foi Capitão da Guarda Nacional, vereador, Homenageado com rua no centro, além de patrono com a cadeira 23 no IHGM, o seu túmulo é um dos dois únicos tombados em toda a região.

Teófilo Benedito Ottoni (3 menções)

Fundador da cidade, alugou homens negros escravizados para auxiliar na construção da Estrada Santa Clara, além de ter escravizados em sua companhia de navegação e comércio. Trabalhou na refundação do Banco do Brasil, que serviu especialmente a senhores de escravos, é o nome do município, e tem o Pantheon na praça Tiradentes, patrono com a cadeira 01 no IHGM.

Fontes:

Minha Rua Conta História, IHGM, 2014.

A formação econômica, política, social e cultural do Vale do Mucuri, Márcio Achtschin, 2017.

Os Rumos de uma Filadélfia Mineira pelas Lentes da Câmara Municipal de Teófilo Otoni, Márcio Achtschin, Rivani Lopes, Valmer Batista, 2023.

Dossiê de Tombamento do Pontilhão à Rua Júlio Costa de Teófilo Otoni.

Nas margens da linha: território negro e o lugar do branco na ocupação urbana na cidade de Teófilo Otoni em meados do séc. XX, Márcio Achtschin, 2016.

A Colonização Alemã No Vale Do Mucuri, Fundação João Pinheiro, 1993.

Notas Históricas Do Município De Teófilo Otoni, IHGM 2022.

A estrada Santa Clara no século XIX, Márcio Achtschin e Leônidas Conceição, 2017.