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Bicentenário de Jequitinhonha (MG): História de Jequitinhonha

Bicentenário de Jequitinhonha (MG): História de Jequitinhonha

Bicentenário de Jequitinhonha

Para os festejos do seu Bicentenário, a cidade de Jequitinhonha (MG) pediu, e a Alemanha concedeu, a restituição dos restos mortais do borun (“botocudo”) Kuêk, amigo do naturalista alemão Príncipe Maximiliano de Wied e falecido no Palácio de Wied-Neuwied. Maximiliano de Wied foi o precursor dos estudos etnográficos no Brasil, grande amigo das tribos do sertão de Minas e do sul da Bahia ("Viagem às Províncias do Brasil, 1815/1817").

Das diversas nações indígenas de Minas Gerais, remanescentes das outrora visitadas pelo Príncipe e que viviam na Mata Atlântica ao longo do Rio Jequitinhonha, cinco estarão presentes, como a Aranã, Krenak ("Botocudo), Maxakali, Mucurin, Pankararu e Pataxó.

CONFERêNCIAS, DEBATES E A PRESENÇA DA ALEMANHA

O Cônsul-Geral da Alemanha, Dr. Michael Worbs, fez na ocasião uma visita oficial a cidade e entregará pessoalmente a relíquia do borun Kuêk ao Prefeito de Jequitinhonha.

Christina Rostworowsky, historiadora (SP), fará conferência sobre Maximiliano e a imagem romantizada dos nossos índios que ele ajudou a projetar na Europa. A pedagoga Geralda Soares (MG) falarou sobre a forçada transumância indígena pelos “sertões do leste” (vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce) ao longo dos século XIX e XX.

Haverá durante as conferências e debates intervenções do Prof. Karl Schilling, diretor do Museu de Anatomia da Universidade Friedrichs-Wihelms-Bonn, onde ficou exposto o crânio de Kuêk praticamente desde a sua morte, em 1833. A curadoria do evento é da jornalista Solange Pereira (MG).

A relíquia foi repassada aos indígenas, que vão levá-la para a aldeia Krenak, em Resplendor, no Vale do Rio Doce. A comunidade vai realizar um ritual fúnebre, de acordo com as tradições.

Nações Indígenas Que Visitaram Jequitinhonha

Aranã: A sua grande dificuldade hoje é o longo processo de dispersão e mestiçagem, o que dificulta sua articulação na luta pelo território.

Maxakali: A economia de suas aldeias se baseiam na organização de roças familiares, artesanato, caça e pesca, e são beneficiados por programas sociais governamentais (bolsa-família, aposentadoria, pensão, etc.).

Mucuriñ: Esse povo luta pelo seu reconhecimento pelos órgãos oficiais, pelo direito a um atendimento médico e educacional apropriado e pela ampliação da área de 19 alqueires em que vivem.

Krenak: Falam a língua borun. Os Borun, como eles se autodenominam, tem em sua cultura lugar especial para as mulheres mais velhas. Os Krenak negociam com os responsáveis pela construção de mais duas hidrelétricas em seu território, o que o diminuirá sensivelmente.

Pataxó: Vários fatos são marcantes na historia Pataxó no marco desses duzentos anos de resistência. A reivindicação principal hoje do Conselho dos Caciques Pataxó é a devolução da área do Monte Pascoal.

Pankararu: Sua luta principal é pela regularização de seu território e implantação de um projeto de Permacultura, que inclui uma grande preocupação com a saúde e com a recuperação da arquitetura étnica.

O Príncipe e o Botocudo

No Brasil, o Príncipe Maximiliano de Wied ligou-se de amizade com muitos indígenas, especialmente com o jovem botocudo Kuêk (1804?/1834), que mais tarde o seguiria para a Europa.

Os registros contam apenas que Kuêk teria sido vendido à expedição de Max. De onde teria vindo, se teria sido recentemente capturado ou se teria já nascido em cativeiro, não se sabe.

Max diz apenas que o jovem lhe transmitira importantes informações sobre os usos e costumes, língua e hábitos vestimentários dos botocudos. Mais tarde, em Neuwied, onde chegou em 1818, Kuêk teria assistido Max na elaboração de um Dicionário da Língua Botocuda.

Na corte do Príncipe. foi-lhe dado o nome de Joaquim Kuêk e o cargo de mordomo de Maximiliano. Morto, seu crânio serviu para experiências na Universidade de Bonn. Ali se encontrava em exposição até recentemente, quando a cidade de Jequitinhonha o reivindicou para devolução à tribo Krenak, oriunda do tronco borun.

Quem foi Max de Wied

O Primeiro Etnógrafo do Brasil

Em maio de 1815 o príncipe alemão Max de Wied-Neuwied (1782/1867) chega ao Rio de Janeiro. Aqui começa seu trabalho de naturalista e etnógrafo.

Até 1817, o Príncipe Max percorreu os atuais estados de Rio de Janeiro, Espiríto Santo, Minas Gerais e Bahia. Do rio Doce, ele partiu para a região do Mucuri e então para sua estadia entre os índios do rio Grande do Belmonte (hoje, o rio Jequitinhonha).

Ele aprendeu intensamente sobre as suas línguas, usos e costumes, ligando-se especialmente aos botocudos (boruns), que descreveu, em seu relato da viagem ao Brasil, de maneira altamente positiva.

Maximiliano veio para o Brasil, com o intuito de ampliar seus conhecimentos sobre história natural e geografia. Seu escrito mais importante a este respeito é, o seu livro “Viagem ao Brasil”, publicado na Alemanha e na França, simultaneamente, em 1820.

Maximiliano de Wied-Neuwied é visto como o precursor dos estudos etnográficos no Brasil.

Bicentenário de Jequitinhonha (MG): História de Jequitinhonha
Johann Heinrich Richter (1803–1845), príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied com Joachim Quäck (1828), óleo sobre tela, 210 x 128 cm, coleção particular. Wikimedia Commons.
Fontes:

Solange Pereira, Encontro Indígena De Jequitinhonha - Homenagem Ao Borun Kuêk E Ao Principe Maximiliano De Wied, 2011. Disponível em: https://curtirobi.webnode.pt/news/encontro%20indigena%20de%20jequitinhonha%20-%20homenagem%20ao%20borun%20ku%c3%aak%20e%20ao%20principe%20maximiliano%20de%20wied/

G1, Aldeia em MG recebe restos mortais de índio que morreu na Alemanha, 2011. Disponível em: https://glo.bo/mIsiMp

Solange Pereira, Nações Indígenas Que Visitarão Jequitinhonha, 2011. Disponível em: https://curtirobi.webnode.pt/news/na%c3%a7%c3%b5es%20indigenas%20visitam%20jequitinhonha/

Rostworowsky, Christina, tese USP “Viagem do Príncipe Maximiliano ao Brasil – 1815/1817”;

Willscheid, Bernd, “Der Botokuden-Indianer Quäck in Neuwied”, in Heimatbuch Landkreis Neuwied 2008, tradução de Solange Pereira.