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História do Túnel Da Antiga Estrada De Ferro Bahia&Minas

Os Túneis A e B da Turma 38 em Teófilo Otoni foram edificados em uma estrutura feita para durar séculos, mas hoje, os mesmos fazem parte de uma estrada de terra batida nos subúrbios da cidade, não possuindo preocupações maiores com a sua manutenção. Também nunca sofreram modificações em sua estrutura, e desde a construção eles conservam as mesmas características até os dias de hoje.

História do Túnel Da Antiga Estrada De Ferro Bahia&Minas

Guia de Bens Tombados de Teófilo Otoni

1. Introdução Histórica

A história do Túnel A da Turma 38 de Teófilo Otoni, um dos poucos bens patrimoniais ligados à “Estrada de Ferro Bahia e Minas” que se encontra atualmente preservado na cidade, está intimamente ligada ao desenvolvimento do transporte no país. No século XIX, o Brasil, sendo um território de grandes dimensões em que a produção econômica centrava-se no interior, necessitava da modernização dos meios de transportes, até então baseado no deslocamento de tropas de muares. Assim, por volta de 1850, foi criada a “Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis”, primeiro empreendimento ferroviário do país que fazia a ligação entre a Baía da Guanabara e a Serra de Petrópolis.

2. Expansão das Ferrovias no Brasil

Após a inauguração dessa Estrada de Ferro, outras companhias ampliaram a malha ferroviária do Brasil, sendo que, já no final do século XIX havia cerca de dez mil quilômetros de ferrovias no país. Dentre as diversas ferrovias criadas nesse contexto, destaca-se a “Estrada de Ferro Bahia e Minas” que era, em tese, a reativação de um antigo sonho de ligar o litoral baiano ao nordeste de Minas Gerais, presente também na “Companhia de Comércio e Navegação do Rio Mucuri”, empresa que deu origem ao antigo povoado de Philadélphia, atual cidade de Teófilo Otoni.

3. A Estrada de Ferro Bahia e Minas

A “Estrada de Ferro Bahia e Minas”, inicialmente propriedade da Província da Bahia, começou a ser aberta em 1881, ligando Caravelas, no litoral baiano, à serra de Aimorés, na divisa com Minas Gerais. Somente no ano de 1898 essa ferrovia chegou a Teófilo Otoni. A cidade havia se emancipado no ano de 1878 de Minas Novas e estava se desenvolvendo tanto no setor urbano, com a construção de inúmeros prédios comerciais e instituições públicas, quanto também no setor rural, então baseado na extração vegetal e na agricultura. A construção da linha férrea na localidade trazia grande expectativa para os moradores, que acreditavam que o novo meio de transporte traria crescimento econômico e social para a região. A linha ferroviária que passava por Teófilo Otoni tinha como objetivos o transporte de passageiros, o que trazia movimento e trânsito constante na cidade, e o transporte de produtos agrícolas, como café e cereais, que eram escoados de forma eficiente para o mar.

4. Desafios e Conclusão da Construção

A Estrada de Ferro Bahia Minas levou mais de 60 anos para ter seus 376 km de linha finalizados, devido a fatores como a falta de capital, à burocracia e também às constantes mudanças de proprietários. Além disso, na época não havia uma separação definida entre os bens públicos e privados, o que favorecia a manutenção de um sistema deficitário, inchado, com uma estrutura física extremamente cara. Os traçados sinuosos, construídos visando uma redução de custos ou garantindo uma grande margem de lucros aos construtores, prejudicavam a eficiência do transporte ferroviário. Estado e iniciativa privada tiveram de investir na retificação de parte desses traçados, minando investimentos em modernização da rede. Assim, em meados do século XX, ocorreu uma crise nacional do transporte ferroviário, com a falta de investimentos em modernização nas linhas férreas.

5. Declínio e Impacto na Região

As constantes crises econômicas e o progressivo do transporte rodoviário fizeram com que a maior parte da rede fosse erradicada. Sem a Estrada de Ferro Bahia Minas, a cidade de Teófilo Otoni perdeu muito em crescimento, uma vez que a linha férrea gerava poder econômico, alimentando o comércio local e crescimento das pessoas. Sobretudo para a economia familiar, a estrada era muito importante, pois tinha um valor social muito grande. O patrimônio da empresa foi praticamente abandonado e o poder público não teve interesse em preservá-lo. A Estação de Teófilo Otoni foi transformada na rodoviária da cidade na década de 1960, o maquinário da Estrada foi recolhido e algumas casas foram cedidas da União para o município.

6. Os Túneis A e B da Turma 38

Os Túneis A e B da Turma 38 em Teófilo Otoni foram edificados em uma estrutura feita para durar séculos, mas hoje, os mesmos fazem parte de uma estrada de terra batida nos subúrbios da cidade, não possuindo preocupações maiores com a sua manutenção. Também nunca sofreram modificações em sua estrutura, e desde a construção eles conservam as mesmas características até os dias de hoje. Logo após o fim da Estrada de Ferro Bahia Minas, foram retirados os trilhos de aço e os dormentes de madeira que compunham sua estrutura, dando passagem para o tráfego de automóveis e pedestres.

7. Localização Atual e Contexto

Hoje, os túneis se encontram entre a cidade de Teófilo Otoni e a barragem Aécio Ferreira da Cunha, da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA). A barragem da COPASA foi construída para abastecer a cidade de Teófilo Otoni em tempos de estiagem, problema crônico do município. Finalizada no ano de 2011, a barragem desapropriou cerca de 30 famílias da área que ocupa atualmente.

8. Preservação e Memória

Cada vez mais cientes da importância da Estrada de Ferro Bahia Minas para a construção da história local, a população de Teófilo Otoni se uniu para manter viva a memória dessa instituição. Assim, em 1999, foi criada a Associação Cultural Bahia e Minas com sede em um edifício que era residência de um ex-ferroviário, localizado na rua Júlio Costa.

9. A Associação Cultural Bahia e Minas

Esse imóvel era propriedade do poder público e já havia sido utilizado como uma casa de preso albergado e também como centro de triagem do sistema de saúde do município. Depois de uma discussão com a prefeitura e a promotoria, viu-se a necessidade de defender o patrimônio local e a casa então foi cedida para se tornar a sede da organização. Quanto aos outros bens que pertenceram à E. F. B. M., em sua grande maioria, se encontram abandonados. Os trilhos e os dormentes foram retirados, o pontilhão na rua Júlio Costa sofreu algumas intervenções práticas, colocando pisos para facilitar a passagem dos pedestres em 2003. As caixas d'água e os túneis só agora começam a receber a atenção das autoridades.

10. Objetivos e Conquistas da Associação

A Associação Cultural Bahia Minas é formada principalmente por descendentes de ferroviários e tem como objetivo preservar e divulgar o patrimônio ferroviário do município. Posteriormente, ela pretende construir um museu com o acervo que está sendo coletado por seus membros. Essa organização promove, desde sua inauguração, diversos eventos, como o Baile "Nos tempos da Baiminas", exposições e discussões em escolas e instituições. Uma das conquistas da associação foi a criação do Dia do Ferroviário, 30 de março, instituído em lei municipal. Sendo, portanto, um dos poucos patrimônios que compõem os resquícios da Estrada de Ferro Bahia e Minas, o Túnel A da Turma 38 deve ser preservado de forma eficiente. Símbolo de uma época de desenvolvimento e mudanças sociais, esse bem faz parte da memória local até os dias atuais, tendo uma presença cotidiana na vida dos moradores de Teófilo Otoni.

11. Descrição do Túnel A da Turma 38

O Túnel A da Turma 38, todo em cantaria e construído nas primeiras décadas do século XX, teve sua relevância ao evitar grandes desvios na antiga estrada férrea perante encostas da região. Seu entorno é caracterizado por um relevo acidentado, com cotas de nível que vão de 425 metros (nível do córrego Suíça) a 545 metros (topo da serra atravessada pelo túnel A). A concentração de árvores de médio e grande porte se faz nas áreas mais baixas das encostas, onde se situa o córrego Suíça. A estrada férrea, ao ser desativada, tornou-se apenas um caminho de terra compactada, sem nenhuma regularização e limites bem definidos entre via e margens. Os caminhos que perpassam as galerias também não mais apresentam trilhos férreos, ocorrendo em terra compactada. Não são verificados equipamentos ou redes elétricas e hidrossanitárias na região.

12. Estrutura e Características do Túnel

Quase não há construções imediatamente próximas ao túnel A. A estrutura mais próxima é o túnel B, a 430 metros a sudoeste, cujos elementos construtivos são idênticos aos da galeria A, apesar deste ter apenas 100 metros de extensão. A 950 metros a nordeste, surge a segunda construção mais próxima, pequena edícula retangular coberta por telhas onduladas metálicas dispostas em duas águas assimétricas. Nela, ocorria o reabastecimento das locomotivas (razão pela existência de plataforma no local) e, por estar situada no trecho da Turma 38, acabou recebendo esta denominação. Imediatamente nas adjacências desta, é situada a Fazenda Aliança, com casarão sede de volumetria colonial entremeada por elementos ecléticos. Ao sul da estrada da Turma 38, ocorre o córrego Suíça.

13. Arquitetura e Construção do Túnel

A galeria férrea do Túnel A apresenta uma planta semicircular com 130 metros, conformando um segmento de curva de convexidade orientada para sudoeste. Atravessa meia encosta no nível 465 m (referência nível do mar), enquanto o cume da serra alcança 545 metros. O túnel, apesar de ser abobadado, dispõe de uma configuração de arco em ferradura ou mourisco, já que o intradorso se alarga sobre a nascença (início do arco) antes de estreitar-se para formar o arco pleno. A disposição arqueada em ferradura se explica pelo objetivo em se criar um melhor travamento físico dos componentes da galeria, ou seja, cada uma das aduelas pétreas da abóbada atuam como força de tração, contendo o empuxo da rocha perfurada. Ao centro do túnel, a cerca de 55 metros da entrada noroeste, uma galeria rasa avança em 1,5 metro na rocha (sentido transversal ao percurso do túnel), compondo-se de abertura em arco pleno romano.

14. Materiais e Técnicas de Construção

A estrutura do túnel se compõe por alvenaria autoportante em blocos pétreos argamassados. Esses blocos são dispostos em mata-junta, cujas juntas apresentam frisos em depressão. Numa análise mais pormenorizada, é possível constatar o aspecto irregular da superfície dos blocos, apresentando-se ora alveolizada, ora estriada. Outra observação se refere à disposição deles: são mais largos na base e vão se estreitando conforme se aproximam do topo, o que contribui para a estabilidade da estrutura.

A estrutura do túnel se compõe por alvenaria autoportante em blocos pétreos argamassados Esses blocos são dispostos em mata-junta, cujas juntas apresentam frisos em depressão. Numa analise mais pormenorizada, é possível constatar o aspecto irregular da superfície dos blocos, apresetando-se ora alveolizada, ora estriada. Outra observação se refere à disposição deles: são mais ¹⁴ Conforme dados históricos, “Esse túnel ficou assim conhecido porque turmas de operários eram responsáveis por trechos da ferrovia caso do túnel analisado, estava sob a responsabilidade da Turma 38, assim como o segundo túnel (Túnel B) e a pequena estação de abas cimento próximo a eles." v¹⁵ Definição extraída do Dicionário Visual de Arquitetura CHING, 2006.

Fonte: Dossiê de Tombamento do Túnel Da Antiga Estrada De Ferro Bahia&Minas